quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Velho

Sou velho,
Velho para amar
Velho para odiar.
Velho para dormir,
Velho para acordar
Velho para pensar,
Me preocupar, falar,
Ainda mais velho para me calar.
Velho para andar, correr, parar
Velho para gozar e me recuperar,
Velho de estima, de vida, de cismas
Velho sem rima, bonitas e mal vestidas
Velho de um olho só, eternamente aberto
Velho de pernas fortes e mãos firmes
Velho para brigar, cair, levantar.
Velho para acertar, menos velho pra errar.
Velho para acusar, julgar e decidir,
Mais velho para que façam isso comigo

E mesmo velho assim como digo que sou
Ainda ouço dizer que sou novo, gozador
Mas insisto, velho sou e serei mais
E ainda: sou o sonho que todo velho traz,
Ter cabeça de velho e corpo de rapaz.

E aqueles que ainda constroem a paciência
Quando a minha em cacos já se espalham
Digo-lhes que não ha solução, se não
Preparar-se para curvar-se e recolhe-la ao chão

Não foi falta de esforço, tentei com toda a forca
Multiplicar por mil minha frágil paciência
Mas por mil ela foi dividida e hoje me equilibro
Sobre o bloco de um caco só, pura demência.

Ainda falta-me propor uma aposta
Diga-me o que serás que te direi não,
Digas o que não gosta e te direi sim
Olhe para o alto, te apontarei abaixo,
Olhe para o lado e te rasgarei o coração.

Como te disse não tenho mais paciência
E como velho sou, sim ou não,
O que importa e ter fincado os pés no chão.

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