
Apontando sua arma para as costas
Do cara que desarmado olhava assustado
Para as pessoas paradas na praia.
Parei curioso, não aterrado, e esperei
Esperei o baque final, fatal não frontal
Daquela bala que poderia ser de festim
Que talvez marcasse a deixa
para o diretor Gritar de sua cadeira: corta!
Esperei o diretor e o tiro numa calma,
num silêncio angustiante que vinha do meu ouvido
e se transformava em um zumbido
que se confundia com o barulho das ondas
que no mar já sabiam
que eu ia andar de novo sem ouvir o tiro
E voltei a andar até o coqueiro, ponto novo para mim
Que tinha dado um tempo desta praia.
Numa paz estranha, já que meus olhos imaginavam
Em cenas sem diretor a vida daquele cara que poderia
Morrer hoje não por derrame ou ataque cardíaco
Mas por uma bala imbecil e fria e pelo ódio incondicional
E naquele calma andei sem olhar para trás
Observando aqueles que virados para minhas costas
Enrugavam seus rostos em desaprovação
Não sei se a mim ou ao cara armado que levava o outro.
E na minha paz divina me locupletei com todas as situações
Que poderiam ser geradas daquele momento:
Eu tomando uma bala
A velha do meu lado tomando a bala
O cara tomando uma bala
O armado ser policial
O armado ser bandido
Eu ser um policial e pegar a arma do bandido
Bala pra todo mundo
E fui naquele marasmo, sem balas nem estampidos
Continuar minha caminhada na direção do coqueiro
E pensava: porque tanto ódio, podíamos conversar
Podíamos sentar e trocar experiências
Mas de súbito me vi impossível, numa mesa de pernas tortas
Com as mão atadas sobre uma arma que soltava balas de feijão
E o homens, burros que só eles, rindo da minha condição de lacaio
De uma idéia fanfarrona de algum brincalhão.
Levantei no meu sonho e disse com voz grossa: eles não sabem,
E no próximo ponto da vida real, desci na areia, no coqueiro menor
Errei o coqueiro e a onda que quebrava me lembrou da bala que alguém tomou.
Um comentário:
Cara que potencial Vc tem !!!!
Brilhante !
Sergio
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