quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Balas

Hoje na praia vi um cara armado
Apontando sua arma para as costas
Do cara que desarmado olhava assustado
Para as pessoas paradas na praia.

Parei curioso, não aterrado, e esperei
Esperei o baque final, fatal não frontal
Daquela bala que poderia ser de festim
Que talvez marcasse a deixa
para o diretor
Gritar de sua cadeira: corta!
Esperei o diretor e o tiro numa calma,

num silêncio angustiante que vinha do meu ouvido

e se transformava em um zumbido
que
se confundia com o barulho das ondas
que no mar
já sabiam
que eu ia andar de novo sem ouvir o tiro

E voltei a andar até o coqueiro, ponto novo para mim

Que tinha dado um tempo desta praia.

Numa paz estranha, já que meus olhos imaginavam

Em cenas sem diretor a vida daquele cara que poderia

Morrer hoje não por derrame ou ataque cardíaco

Mas por uma bala imbecil e fria e pelo ódio incondicional
E naquele calma andei sem olhar para trás

Observando aqueles que virados para minhas costas

Enrugavam seus rostos em desaprovação

Não sei se a mim ou ao cara armado que levava o outro.

E na minha paz divina me locupletei com todas as situações

Que poderiam ser geradas daquele momento:

Eu tomando uma bala

A velha do meu lado tomando a bala

O cara tomando uma bala

O armado ser policial
O armado ser bandido

Eu ser um policial e pegar a arma do bandido

Bala pra todo mundo
E fui naquele marasmo, sem balas nem estampidos

Continuar minha caminhada na direção do coqueiro

E pensava: porque tanto ódio, podíamos conversar

Podíamos sentar e trocar experiências
Mas de súbito me vi impossível, numa mesa de pernas tortas

Com as mão atadas sobre uma arma que soltava balas de feijão

E o homens, burros que só eles, rindo da minha condição de lacaio
De uma idéia fanfarrona de algum brincalhão.

Levantei no meu sonho e disse com voz grossa: eles não sabem,

E no próximo ponto da vida real, desci na areia, no coqueiro menor

Errei o coqueiro e a onda que quebrava me lembrou da bala que alguém tomou.

Um comentário:

Anônimo disse...

Cara que potencial Vc tem !!!!
Brilhante !
Sergio