segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Pedrinho e as mulheres

(17 de janeiro de 2007) Ultimamente, tenho conversado bastante com a minha chefe. Sul africana, trinta e poucos anos, levemente acima do peso; ela recama diariamente dos homens e da nossa eterna incoerência. Tento, com meu inglês macarrônico – como diz um amigo – mostrá-la o caminha das pedras, mas é muito difícil.

Depois de alguns meses ouvindo, decidi trair um pouquinho o meu gênero e contar um pouco do ridículo universo masculino. É ridículo porque todo homem é obvio, todo homem é fraco e, finalmente, todo homem é, na verdade, uma criança louca para ter o que quer – na maioria das vezes - mulheres.

Para começar é necessário fazer uma afirmação que vai nortear tudo o que vai ser escrito: quem manda em tudo, quem tem o poder de decisão é sempre a mulher. Portanto, levantem a cabeça, olhem para qualquer homem de cima e mantenham a mão firme no cabresto. Ele vai olhar para onde você quiser que ele olhe.

Vamos, então, dividir os homens em categorias para facilitar o que já é ridículo entender: nós.

1) Mané: este é aquele cara que ninguém quer, mas que - em teoria - tem o que toda mulher quer. Funciona assim: ele é feio, esquisito, não tem pegada, não tem status (de homem com H), não tem nada que os atores e cantores têm. No entanto, ele ama incondicionalmente. Seu amor platônico o leva a níveis estratosféricos de romantismo e delicadeza. Esse homem é sempre relegado, pois em duas semanas fica insuportável, vira um chiclete e, mais importante: é foda apresentá-lo às amigas e à família. Esse mane geralmente está entre os 14 e os 20 anos.

2) Nulo: desta categoria, podemos citar uma porrada de amigos nossos. Meio inteligentes, meio engraçados, meio bonitos (ou feios), não fazem muita diferenca num grupo de amigos. É aquele que fica no canto e, de vez em quando, solta uma frase engraçadinha, logo cortada, ampliada e apossada pelo canalha ou FDP (vide mais a frente), que toma a atenção de volta. Há nulos em todas as idades, talvez seu pai seja um nulo, inclusive.

3) Filha da Puta: o filha da puta é aquele que tem o que toda mulher quer: é charmoso, inteligente, engraçado, fama de bom de cama, romântico e jogador. Só que ele também tem um caderninho, onde estão anotadas todas as mulheres comidas, todas as características principais e, principalmente, este cara compete com outros FDP para ver quem pega mais. Este individuo geralmente está entre os 17 e os 30.

4) Canalha: aqui há uma diferença muito sutil que vai precisar de um pouco mais de sua atenção: o canalha tem todas as características boas do FDP, mas ele ama incondicionalmente. O canalha precisa das mulheres, sem elas, ele fica perdido. Ele pode ter duzentas, mas vai viver e amar intensamente cada uma delas. Ele não ama ninguém verdadeiramente porque ainda não achou, ele ama a todas, pois admira, profundamente, o sexo feminino. Ele, geralmente, é viciado em sexo, é viciado em beijos e, principalmente, é viciado em olhar. Se alguém te olhar por muito tempo, sem motivo, prepare-se para o começo do jogo.

Destas quatro categorias, o tipo de homem que você provavelmente deseja está encaixado na última. A questão agora é: como agarrá-lo. É sobre isso que vamos tentar escrever nos próximos parágrafos, mas antes uma breve história de um homem qualquer num tempo qualquer, que vai demonstrar quem é o (A) grande responsável pelo surgimento do FDP.

“Era uma vez o Pedrinho. Inteligente, sagaz, Pedrinho tinha 13 anos quando se apaixonou pela primeira vez na sua vida: Elisa era o nome dela. Baixinho, cabelo mal cortado, bigodes (ou penugem) nascendo sob o nariz avantajado da adolescência, espinhas cobrindo-lhe todos os cantos do rosto, Pedrinho andava com os nerds, mas já mostrava alguma poder de falar coisas engraçadas e de ser pólo de atenção, mesmo quando os jogadores de futebol da turma estavam presentes.

Por sua vez, Elisa era linda. Quatorze anos recém comemorados, seus peitinhos já davam sinais de abundância certa. Suas pernas bem feitas e sua pele branquinha faziam a imaginação da garotada transbordar (se é que me entendem) em tremiliques e gemidos. Alta, gostosa – com aquela saia curtinha e de propósito – Elisa sabia o dom que tinha, só não sabia ainda que as coisas mudam.

Por horas, séculos, milênios, Pedrinho pensava nela. Quantas vezes, ele não pegou o telefone, discou o número da amada e desistiu quando o último digito era computado. Quantas vezes, foi a ela no recreio e mudou de rota para desviar daquele débil-mental enorme que sempre colava dele nas aulas de história e matemática. Quantas vezes....

No aniversário de quinze anos da menina, Pedrinho foi com a mãe comprar um terno – o mais bonito – passou horas escolhendo um ursinho branco de presente, onde ela pudesse recostar quando estivesse cansada, comprou flores de todas as cores, para animar o dia dela e encher de cheiros o seu quarto. Enfim, gastou todos os vinte reais que tinha conseguido juntar nos últimos cinco meses só para tentar agradar e adivinhar o que poderia fazer ela feliz. Arrumado, cheiroso, foi a festa e viu a menina ignorá-lo olimpicamente e só ter olhos pra aquele idiota bonitão (mais tarde, provavelmente, incluído na nossa lista de FDP).

Pedrinho então fez o que nunca pensara em fazer, bebeu alguns coquetéis, tirou aquela gravata ridícula e pegou a mulher mais feia e esquisita da festa. Mas tamanho era o seu tesão, tamanha era o seu jeito, que algumas meninas passaram a olhá-lo diferente. Meses depois, Pedrinho colecionava beijos apaixonados na escada do colégio. Seu corpo já tinha ficado menos esquisito e suas tiradas tiravam qualquer mulher (menina) do sério. Pedrinho tinha se transformado num FDP.

Pedrinho descobriu que tudo o que ele era, que todo o amor que ele sentia, não lhe servia para nada. Pedrinho descobriu que para ter as mulheres que queria, era preciso ser FDP, era preciso jogar o jogo mais sujo, era preciso encenar a todo o tempo. Pedrinho, todavia, ainda guardava no fundo do seu coração alguma coisa do que havia sido. Pedrinho não competia, Pedrinho preferia se machucar à machucar alguém, Pedrinho fazia de todas, cada um delas, a mulher da sua vida.

Pedrinho, no último ano do colégio, quando todos se despediam, encontrou com Elisa. Elisa, malandra, deu-lhe um beijo no canto da boca; Pedrinho desviou e beijo-lhe a testa. Pedrinho tinha entendido.”

A cavalaria dos mortos

Com pompa, o presidente da Associação dos Direitos Humanos da Espanha apresentou trabalhos e pesquisas, falou com orgulho dos processos contra Pinochet e contra as ditaduras militares na Argentina, Guatemala, Congo e Zimbábue. Discorreu sobre a dificuldade de conseguir provas contra torturadores e assassinos oficiais e atacou como era de se esperar os paises que compõem o Conselho de Segurança da ONU (EUA, Rússia, GB, Franca e China).

O discurso foi emocionante, montado, com frases de efeito, recheado de descrições detalhadas de torturas, perfeito para garantir a cumplicidade de quase toda a turma. Todavia, o que me saltou em cada frase foram as contradições, velhas contradições.

A primeira: os direitos humanos e o direito fundamental a livre a informação só servem, claro, para os governos considerados de direita. Cuba e Venezuela não estão neste grupo e, portanto, são resguardados. E ai de quem perguntar sobre a ditadura de Fidel.

A segunda: quando tinha entendido que deve ser realmente difícil recolher provas para processar aqueles que ferem os diretos fundamentais do ser humano, nos foi apresentado um vídeo sobre torturas em prisões americanas, com nomes, data, testemunhas etc.

Conclusão numero um: se existem provas contra o governo americano, por que não utilizá-las para pressões internacionais, por que não fazer barulho, ou pelo menos soltar uma nota de que Bush vai ser levado ao tribunal Internacional? E com a China? Não se pode fazer nada diante das execuções diárias? E Birmânia? E Cuba? E Venezuela? Evidente que é muito mais fácil atacar quem já virou passado. Portanto, os Direitos Humanos estão sempre atrasados 10 anos ou é a cavalaria que chega quando já estão todos mortos.

Conclusão numero dois: os direitos humanos só servem para aqueles que vivem e sofrem sob algum governo considerado ideologicamente inimigo. Portanto, a ideologia política burra e inquestionada mata mais que todas as ditaduras ou a burrice está varrendo o mundo.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Topless

Diante da abundancia de peitos de fora em Chipre, detive-me numa questao fundamental: em quanto tempo os seios femininos tornarao-se nulos como o peito masculino?

Nada contra a revolucao feminista, muito pelo contrario, porem as mulheres sao feitas de misterios. Quanto mais misterios uma mulher tem, mais fascinante ela eh. O bico do peito, escondido atras de um fio de biquini, eh misterio dos mais aguardados pelos machos. E eis que diante da revolucao feminista (fantastica e tardia que se diga), o bico do peito estah lah, triste, a mostra, queimado de sol, revelado a todos que andam, bebem, comem e brincam na piscina ou na praia.

Na quina da piscina, uma inglesa jovem e bonita, cercada de garotos, ostenta seu peito. Os adolescentes, espinhas na cara, olham hipnotizados para aqueles bicos rosados envergonhados. Mas soh os olham por 15 minutos, ateh esquecerem ou se acostumarem; e o peito adormece sob um sol de 40 graus.

Eh possivel q, em breve, os seios feminino sejam como o peito masculino: normais, carentes de atencao, pouco tocados e morenos. Ai lembraremos dos peitos brancos, sacanas, que nunca olhavam para onde esperavamos, que nunca eram com imaginavamos; seios brancos e misteriosos...

Moto-continuo

matemática complexa, ritmo, furia sintonizada,
suor, cor, rumor, dor e prazer, mímica adestrada,
cheiros, música, pele, pelos, forca equilibrada,
gritos, sussurros, engasgos, paixao acelerada.

coracoes, pulsos, impulsos, cultos, lutas controladas,

piques, esquerdas, zigues, direitas, faces compenetradas
velocidade, compasso perfeito, estrelas sentidas e tocadas
beijos, abracos, arranhoes atrasados, pernas arrasadas

cabeca no ombro, beijos descompromissados, sono relaxado

meia hora, uma hora, inquietude, movimentos involuntarios,
maos despertas, pernas dobradas, dentes semi-cerrados,
roupas jogadas, corpos colados, olhos marejados
de tesao descontrolado.

no moto-continuo infinito como eh,

metematica complexa, ritmo, furia..........

Consideracoes a posteriori

Mais uma daquelas noites frias de Londres, sem fog, mas fria. Voltando pra casa, procurando um lugar para comprar o maldito ovo de páscoa da minha esposa, sem casacos o bastante para parar o vento, sem poderes para me tele-transportar para casa, com o maldito ovo já devidamente escondido.

A culpa foi minha é claro, ela comprou o meu chocolate ontem e eu esqueci completamente. Hoje, domingo de páscoa, a noite, não me restam muitas opções. Parei no primeiro indiano que me apareceu, só barras de chocolate, no segundo, balas de chocolate, no terceiro, cervejas. Fodam-se!

Antes de poder ver a esquina da minha casa, perdido no meio de tantas casas iguais, com seus tijolos iguais, com suas portas pretas iguais, vi uma nota de 50 pounds no chão. Pensei: não tenho um ovo, mas tenho mais 50 pounds na carteira; dos males, o melhor! Olhei para um lado, olhei para o outro; na duvida, olhei pro céu. Nada parecido com alguém que perdeu dinheiro no raio de 10 quilômetros.

Abaixei, peguei a nota, meus olhos logo viram uma segunda nota dois passos adiante. Rapidamente, refiz o procedimento. Direita, esquerda, acima; abaixei e a peguei. Que beleza, estaria rico, num golpe de sorte incrível. Mas meus olhos viram logo a terceira nota e a quarta e a quinta e a sexta. Comecei a rir, mas alguma coisa estava errada.

A rua estava vazia demais. Não havia nada, só algumas luzes, sem sons, sem vento – mas continuava frio. A trilha de lindas notas com a cara da rainha terminava dentro de uma cabine telefônica; claro, escura. Tentei enxergar alguma coisa, mas nada, só uma grande penumbra. Catei todas as notas e abri a porta da cabine.

Caído no chão, um homem branco, cerca de 40 anos, cabelos começando a grisalhar sob um chapéu típico britânico. Um grande sobretudo cobria o corpo de cidadão; uma gravata e um colete deixavam-se aparecer sobre a confusão de tecidos que se aninhavam naquele cubículo. Abaixo do seu braço direito, uma mala entreaberta recheada de dinheiro finalizava a trilha que começara alguns quilômetros atrás.

Sacudi o homem, mas não foi preciso muito esforço para que acordasse. Com o rosto bem barbeado, apenas uma barbicha bem cortada desenhava um queixo pontiagudo, os olhos cor de lama olharam-me enquanto a boca falou-me em inglês: “what do you want?” Seu bafo era horrível, há de se comentar, mas não era de álcool. Gaguejei no meu inglês macarrônico e fui interrompido: “fale em português, eu não me importo”.

- E perigoso ficar aqui com tanto dinheiro. O que houve?
- A mala e sua. Pegue-a!
- Não senhor, por favor. Quer ajuda para levantar?
- Ela já é sua...
- Não, não é...
- Então, me diga: o que você tem no bolso?
- Eu ia te devolver, ainda não sabia que era de alguém.
- Fique com a mala.
- Por favor, não insista...
- Vamos colocar as cartas na mesa...
- Pardon?
- O negocio é o seguinte: a mala é sua e, a partir de amanha, você terá todo o dinheiro do mundo, toda a fama possível, vivera um sonho inesquecível. Absolutamente, nada de ruim acontecera a você, nem a ninguém próximo. Tudo o que você puder desejar será seu a partir do momento em que abrir os olhos depois desta noite de sono.
- Pardon? Eu te conheço?
- É claro que conhece. Sempre estive perto de você; sempre rondei seus sonhos, sempre alimentei seus pesadelos. Gostava de ver seu rosto de pavor, quando acordava suado; ou seu sorriso, quando acordava melado. Sempre estive do seu lado; nas orgias, nos beijos e orgasmos clandestinos; nas suas palavras, quando destruía alguém; nos seus olhos, quando fulminava alguém mais fraco. Eu quase sou você, e você é um dos meus melhores. Te treinei, agora preciso de um contrato. Fique com a mala, tenha a vida que você sempre quis para você e para os seus e me de a sua alma.
- Alma?
- A troca é essa, tudo na vida, nada na morte. O único ruim que lhe adianto, isso você poderia ler na ultima linha do contrato, é que você terá a pior morte possível.
- Sorry, mas não acredito em alma...
- É, eu sei, e me orgulho disso, você negou o outro por muito tempo...
- É, mas se eu não acredito em deus, também não acredito em você...
- É, mas eu estou aqui...
- Mas eu continuo não acreditando...

Neste momento, um raio cruzou o céu londrino, e um trovão quase botou abaixo o céu mundo.

- Esta vendo? Ele esta puto com você...
- Ele quem, cara-palida?

Outro raio ainda mais luminoso, com um trovão mais estrondoso fez balançar as arvores e os prédios a minha volta.

- Querido mortal insolente, você não pode brigar com os dois...
- Mas não estou brigando com você, querido sete peles endinheirado...
- Você não entende, quando você não está comigo, esta contra mim...
- Pois bem, que assim seja, serei o primeiro mortal que terá como inimigo deus e o diabo...
- Esta achando engraçado?
- Não. Na verdade, não estou achando nada, mas posso reconsiderar...
- Que assim seja, repito-lhe a proposta que não voltarei a repetir: pegue a mala e tudo será seu.
- Repito-lhe: no, thanks.
- Você ainda vai poder falar inglês como ninguém, pense nisso!
- No, thank you very much.
- Ok, com esse sotaque e com sua escolha, só tenho uma coisa a lhe dizer: seus problemas começam amanha, quando você abrir seus olhos...

Virei as costas a cabine e ao homem louco que ali se encontrava, mas antes esvaziei meus bolsos e na duvida deixei com ele o que tinha na carteira também. Continuei caminhando, pensando no maldito ovo que ainda não tinha comprado e que tinha de acordar cedo na terça para trabalhar e que também não tinha muito dinheiro no banco e que meus pais estavam com problemas no Rio e, e, e, e...

Quase na esquina de casa, achei uma daquelas lojas de indianos aberta. Entrei e perguntei se tinham algum ovo de páscoa. O rapaz abaixa-se e em suas mãos um reluzente ovo de páscoa olhou para a minha carteira. Peco um segundo, vou ao caixa, pego dinheiro e faço-lhe a pergunta: quanto? Depois de querer esmurrar a cara do bendito indiano, compro o bendito ovo e vou, fumando meu cigarro da volta, de volta pra casa.

Abro a porta devagar para não acordar minha esposa. Encontro sobre a mesa da sala um ovo de páscoa e um bilhete. Leio-o, deixo o ovo que comprei e arranho alguma coisa no verso do tal bilhete. Tiro a roupa ainda na sala e entro no quarto escuro para encontrar com o amanha.

Ouço lá fora os pássaros cantando. Tento abraçar minha esposa, mas ela deve ter ido tomar banho. Resisto a abrir os olhos, não sei por que; acabo adormecendo de novo. Acordo com uns tapinhas no ombro; abro os olhos imediatamente e imediatamente vejo minha esposa sentada na cama com uns papeis na mão e uma mala fechada no chão. Ela me pergunta e na sua pergunta só há raiva: quem é Natalia?