segunda-feira, 21 de abril de 2008

Nas costas da pálpebra

É só fechar os olhos,
que eu tenho você,
ou estou em você,
no meio de lugar nenhum.

É só fechar os olhos,
que te vejo sorrir,
no meu ombro dormir,
sonho dentro do sonho.

É só fechar os olhos,
que te sinto suar,
que te escuto gritar,
num ritmo que não conheço.

É só fechar os olhos,
e o passado que não foi
vira presente imaginário
e futuro embaralhado.

Eu fecho os olhos e viajo,
viajo sem volta marcada
em loucuras endiabradas
de quem não sabe mais nada.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Pernas, pernas, pernas...

Que fixação por pernas,
todas elas, as pernas delas
linhas curvas, linhas retas

formas raras, não tão certas

pernas roliças de dormir
pernas magras de suar
pernas curtas de apoiar
pernas longas de se enrolar

pernas hippies de pêlos pretos
pernas jovens de cores fortes
pernas executivas ou da estiva
pernas putas de toda a vida

Aquelas que andam duras de beleza
outras que rebolam com toda destreza
acompanhando a bunda dancarina
dentro do compasso da melodia mais fina.

Me ajoelho e peço pouca atenção
às pernas que passam ao largo

elas me ignoram e não me dão
mais que um joelho dobrado.

Essas pernas que não param,
que andam, correm, que estalam
Essas pernas que minhas não serão

que jogam minhas pernas no chão.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Eu minto sobre cigarros. Eu não fumo.

Te dei a mão com ironia, calcei a porta com o jornal de hoje e fomos longe. Um do outro. Me viu do outro lado da rua, me olhou através e disse o que pensava. E eu lendo os seus lábios e os seus olhos, esqueci de que lado vinha e voltei, como se fosse.

Das coisas que eu uso eu minto.
E minto de tudo mais que sinto.
Dos caminhos: o mais longo, que é o único.
Dos sentidos: o de sempre, que é o claro.
Dos amigos: o tolo, que é o santo.
Dos amores: o falso, que é o eterno.
Das manias: você, que não tem jeito.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Qual?

O que sobra quando
o dedo falha, quando
o olho fecha, quando
se tropeça?

O que sobra onde
tudo morre, onde
o que há explode, onde
nem erva daninha?

O que sobra por que
não acorda, por que
não volta, por que
não há?

O que sobra como
lixo de rico, como
sol de estio, como
chuva rala?

O que sobra, no que
está verde, no que
não vem agora, no que
só se atrasa?

As perguntas
só causam
mais perguntas.

Melhor a ignorância
completa,
a cegueira discreta,
à saída.

sábado, 5 de abril de 2008

Mr. Presidente

Todo mundo defende muito,
mas ninguém fala a frase:
"ele é um exemplo a seguir,
um poço de saber e equidade".

Mais da metade o adora,
mas dentro de casa, ninguém deseja
que um filho um dia seja
o que ele representa agora.

Ele caga em nossas cabeças
e tem gente que agradece o presente
ele remonta o passado, e neste caso
sempre seremos os otários mais recentes.

E ele ri dos que estudam,
e ele ri dos que trabalham.
e transforma em crime,
tudo o que poderia ser apenas acaso.

Dorian ideológico

Só querem o conflito;
vivem de gerar emoções.
Se quisessem soluções,
parariam com a gritaria.

Mas se parassem de gritar
se perderiam sem objetivos,
sem emprego ficariam,
morreriam sós em pó de mica.

Sem o quadro dos gritos,
todos se desintegrariam
mortos, areia tornariam-se
nada mais que pólem de outros gritos

Mas nunca acontecerá,
o pólem maldito é poderoso
está em todo o mundo,
e grita mesmo que esteja morto.