quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O primeiro chapéu

O velho era comum, como muitos velhos que esperam a hora máxima nesta terra. O que o caracterizava no meio da multidão era seu chapéu Panamá. O que o fazia viver era sua mania de andar rumo ao infinito. Andar, era o que fazia; chapéu, era o que vestia. Dizem os livreiros da Praça Tiradentes, amigos do andarilho intelectual, que sua casa era o Beco dos Barbeiros. Revelam também que há muitos anos, o velho tinha se apaixonado pela mulher de um barbeiro que existia no lugar. Hoje, não existem barbeiros naquela pequena rua, muito menos as mulheres deles. 

Talvez desejando sonhar com o passado, o velho dormia por ali. Os guardas municipais que passavam sempre o encontravam adormecido sob o cobertor esfarrapado com as pernas em movimento. O velho tinha o poder de andar nos sonhos. De um dia para o outro, sem que as pedras portuguesas percebessem, os pés cansados não mais caminharam. O velho, da mesma maneira que surgiu, desapareceu. Dizem que chegou ao infinito, dizem que levava em seu colo a tal mulher do barbeiro.

Soube desta curta história no momento em que percebi que podia caminhar nos meus sonhos. Ainda não vejo o infinito, ainda não quero alcançá-lo. Ao menos, já comprei meu primeiro e único chapéu.

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