quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Variações do mesmo tema



Caí de uma vez. De joelhos, vi a parede que se apoiava na minha testa. A respiração faltou, suguei, pedi ar ao próprio ar, que me ignorou solenemente. Dois segundos. Vou morrer. Não. Não era a morte. No momento seguinte irrompe o choro. Lágrimas abundantes. Há pouco me faltava ar, agora há excesso de água. Molho a camisa. Enxugo o rosto. A parede força a testa e a testa força a parede. Formigas perdidas fazem a ponte e invadem meu rosto. Duas. Perdidas. Andando em caos. Os soluços atordoam o corpo. Incontrolável. O choro não termina e o corpo quica sobre os joelhos esfolados. Não consigo respirar. Desmaio. Acordo com um beija-flor que gosta de lágrimas salgadas.

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Tem horas que a respiração falta, a barriga encolhe, o rosto se contrai. As mão vão velozes à cabeça, tentam controlar o que não pode ser controlado. Do estômago vem uma onda, carregando todo o peso, reavivando a memória, formigando as pernas. A boca se abre, numa última tentativa de conter as lágrimas. Não estamos acostumados a chorar. E aquela água mágica e salgada, vinda direta do coração, explode e leva os que estão por perto.

Por muito tempo, acreditei que não choraria pela morte de alguém. Por duas vezes, mesmo diante da saudade avassaladora, contive as lágrimas, naturalmente. Elas se esconderam, covardes, em alguma curva do corpo. Achei que seria assim sempre. Garoto. Não era natural. Uma questão de tempo: eu era verde e não tinha maturidade para soluçar como uma criança. 

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