sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Antídoto vermelho

Hipnotizado. Assim fiquei quando ela entrou no elevador. Não pude ver o rosto, mas pelas marcas do cotovelo e das mãos – que descansavam cruzadas sobre a bunda -, ela deveria ter uns trinta e poucos anos. O cabelo castanho liso ficou a um palmo do meu rosto e o perfume me tomou a consciência. Entrei em alfa e, discretamente, vislumbrei aquela deusa do cotidiano. O vestido verde deixava os ombros curtos e sardentos ao relento e sem defesa ao meu hálito plebeu que provavelmente a incomodou. A cintura era pequena e marcava o início de uma gigantesca bunda. Perfeita, ao menos quando protegida pelo vestido. As pernas de coxas grossas e a panturrilha bem definida completavam o quadro. Estava sob efeito de mágica das mais puras. Não era tesão, não era instinto, era devoção. E tudo se desfez no momento em que meus olhos baixos deram com o pé. Uma deusa não deveria pintar de vermelho as unhas do pé. Saí do elevador, sentindo-me traído. A partir daquele momento, sempre começo uma devoção olhando para os pés delas.

Um comentário:

Camila Caringe disse...

Cores.
O problemas são as cores. Não o vermelho.

Cores nas mãos até vai.
Nos pés, são uma heresia.