sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A história das estátuas

A fé na beleza pura, absoluta, é uma ilusão do primeiro minuto da paixão avassaladora. Muitos vivem de muitos primeiros minutos e mantém a beleza absoluta viva, porém inalcançável. No momento em que é tocada, seja com a voz ou com o corpo, a beleza aciona um dispositivo de autodestruição. Pode viver por alguns meses, mas geralmente implode nos primeiros dias.

Há histórias, é verdade, de belezas que duraram anos. Belezas que envelheceram. Exceções do longo conto do amor. A regra de muitos apaixonados é deixar o belo distante e perfeito, protegido de qualquer mal entendido. Para estes, é preferível sentir intensamente aquela beleza – fluxo par da paixão momentânea – e deixá-la como um borrão em algum lapso perdido da memória.

Outros, desbravadores do próprio coração, acreditam que alguma beleza um dia durará para sempre e tentam alucinadamente capturá-la. Comemoram quando a tem, ou melhor, a retém por mais de um par de dias. No final, ela sempre se vai, agarrada as saias da paixão fugitiva. A depressão dura até que os olhos a encontrem em outro rosto que atravessa uma rua qualquer.

A explicação para a irracionalidade, não há, mas indícios de que a beleza não existe em si ganham força quando a experiência avança. Dizem os velhos sábios do travesseiro que a beleza é projetada pelos olhos de quem vê e morta pelo toque de quem ama. A beleza é um conjunto de lembranças, desejos e anseios projetados aleatoriamente pelo perdido de coração.

No momento em que a perfeição projetada encontra uma hospedeira, a toma para si e a transforma em uma estátua de virtudes e perfeição. Neste segundo, o que ama a sensação do nirvana, deixa a beleza em paz protegida por sua aura verde. E o que anseia, parte para uma ataque suicida, no qual buscará a si mesmo e encontrará outrem.

Dizem os sábios do travesseiro que na tentativa de eternizar a beleza, os antigos começaram a produzir estátuas.

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