quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Morte e Aplausos

Caminhava pela rua do Carmo como sempre fazia. Cigarro acesso, preso aos lábios pela saliva seca. Olhos fixos nos paralelepípedos irregulares. Ouvidos abertos para precaver-me de algum motorista nervoso. Todos os dias, o mesmo. Até aquele dia. 


De susto, um homem alto e bem vestido encostou o cano da pistola na minha barriga. Disse algo como "passa tudo". O cigarro assustado se jogou entre as pedras gastas e eu não pude responder. Tomado por um instinto, entrei em alfa. Não ouvia nada e só tinha olhos para aquelas mãos que ameaçavam minha vida. Num movimento que nunca seria meu, agarrei-lhe a mão e virei o cano gelado contra a barriga do assaltante. Nervoso, apertou o gatilho contra si mesmo. Tudo isso em horas minutos. Todo o movimento sem uma gota de suor.


Abraçado a mim, desabou sem vida, inerte. União de pó. De joelhos ao lado de um corpo que nunca havia visto, fiquei. Fechei-lhe os olhos e permaneci estátua não sei por quanto tempo. O povo, portador de curiosidade absurda, chegou-se em círculo perfeito tomando-me o ar. E eu tentando entender. E o povo a aplaudir.  

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