sábado, 16 de outubro de 2010

Improvável

Dizia um ser mágico que todos nós deveríamos aceitar o seguinte desafio diário: antes do café da manhã, pensar em cinco coisas impossíveis. O impossível, entretanto, se juntou com o improvável, transformando coisas simples em atos distantes e espinhosos.  

Talvez tenha havido um tempo em que a magia era o éter e o impossível era a poesia sentida, o amor absoluto, a imagem de um cafuné num beija-flor. Tempo em que o impossível era conquistar a pequena do armazém, chegar à lua, conhecer um chinês. 

Sem que percebêssemos, as regras mudaram - algumas se inverteram - e tudo que está fora da rotina casa-trabalho passou a fazer parte do maravilhoso mundo do desconhecido que nunca será explorado. Sem dúvida é mais fácil não tentar.

Não há lado bom nessa história. Estamos encurralados. O possível é um quadrado 2x2 e o provável, uma quina gelada e iluminada como um aquário. Aqueles que tentam são tidos como loucos desvairados, imaturos incompreensíveis, amaldiçoados a caírem do cavalo, para a alegria dos felizes engessados.

Caminhando na rotina óbvia, pensei no desafio e nas cinco coisas impossíveis que me olham todos os dias insistentemente. Conversar com o mendigo que dorme perto do Buraco do Lume; dar um bom dia sereno para o vendedor que berra o preço da caixa de bis no meu ouvido; ligar para um dos telefones pregados dentro do orelhão e dizer para a mulher do outro lado que ela é fantástica; catar o lixo que insiste em ocupar a história do Arco do Teles; pegar todos os papéis que são oferecidos na rua, parando sempre e contribuindo com um sorriso.

Impossível não é. Apenas improvável.

Nenhum comentário: