quarta-feira, 12 de maio de 2010

História de Trocador

Uma história que me contaram por aí:

Flávio era um cara tímido. Muito tímido. Já tinha completado 19 anos e nunca tinha beijado na boca. Ao ver meninas, tremia dos pés a cabeça e, o mais importante, nunca tinha tido a oportunidade de se apaixonar. Num dia qualquer, resolveu entrar numa loja de CD. Entrou sem procurar nada e achou o que não esperava. Laura, a vendedora. Delicada, pequena, cabelos negros, três ou quatro piercings espalhados pela cara. Quando a viu, Flavio não conseguiu se mover, estagnado dentro do próprio coração. A menina que reconheceu nele algo que não identificava, se aproximou e perguntou se podia ajudar. O menino agarrou um CD qualquer e entregou à vendedora. Eram 15h.

A partir daquele momento, Flavio passou a visitar a loja diariamente e sempre às 15h. Comprou inúmeros CD's que nunca abriu e que ocupavam os armários e o chão de seu quarto. Foram três meses de visitas rápidas, intensas e mudas. Flávio esticava o braço com um CD pendurado em suas mãos e Laura fazia o seu trabalho. O máximo que Laura ouviu foram bons-dias balbuciados. Certo dia, Flavio não apareceu e a este dia se seguiram outros. No quarto dia em que a ausência se fe presente, Laura decidiu ir atrás de notícias.

Vasculhou os recibos de venda e descobriu o nome completo do rapaz. Na Internet, conseguiu o telefone e ligou. Boa tarde, por favor o Flávio? Quem gostaria? Laura, sou a vendedora da loja de CD's. Onde fica essa loja? Na rua do Almeida 23. Pois bem, em uma hora estou aí. Mas quem está falando? Marcia, mãe do Flávio. E o telefone foi desligado.

As 16h, Marcia apareceu com uma mala. Laura que já esperava a visita se adiantou e a convidou para sentar num canto mais reservado da loja de CD's. Quando Marcia começou a chorar, Laura sentiu que as coisas não iam bem. Entre soluços a desesperada mãe contou a Laura que o filho havia morrido atropelado quando voltava pra casa da loja de CD's.

Com os olhos embassados, empurrou a mala na direção de Laura que, chorando, reconheceu dentro dela os compactos que havia vendido. Todos completamente lacrados. Laura começou a chorar copiosamente e, um a um, foi rasgando os lacres e colocando sobre a mesa os bilhetes que ali escondia na esperança de que um dia Flavio correspondesse seu amor.

Nenhum comentário: