segunda-feira, 17 de maio de 2010

Breve desabafo

Como ele nunca houve, nem perto. Admito que a culpa da separação foi minha. Eu era muito jovem, embrião de feminista e não entendia que algumas coisas não mudam. Acreditava numa relação de iguais, quando nunca somos iguais. Acreditava em centenas de coisas que hoje não lembro. Definitivamente, não eram importantes. Vivi como desejei, mas perdi meu maior desejo que era tê-lo ao meu lado.

A última vez que o vi foi no verão de 1932. Estávamos num parque. Não lembro o nome do lugar, mas me recordo bem da habilidade que ele tinha de me segurar pela cintura. Ao mesmo tempo em que usava a força de um animal, encaixava as mãos como um cavalheiro. Pressão e delicadeza, paixão e amor, juntos inseparáveis.

Ele, deitado na grama, me contava coisas que eu não sabia. Eu, de olhos fechados, recitava poemas impossíveis e assim víamos o tempo correr. Enquanto o sol descia de encontro a terra, eu imaginava uma vida inteira. Naquela tarde maravilhosa, ele me contou que era casado e que tinha uma filha pequena.

Fiquei louca. Tive vontade de arrancar os cabelos, de chorar, de fugir. Mas não fiz nada. Sentei-me e fitei o sol que já tinha ido embora. Não seria um simples homem que me faria perder o controle. Hoje teria feito tudo que não fiz. De nada me serviu o maldito controle. A idade me fez ver as coisas de outro ângulo, digamos assim.

Levantei e não olhei pra trás. Nunca mais o vi. Nunca mais o tive. E hoje com 78 anos de idade, me lembro de uma época de ouro e imagino. Fotos, não tenho. O que fica? Duas frases: não existem regras para nada, e orgulho, só serve da boca pra fora. Que eu aprenda para a próxima.

3 comentários:

Luís.G disse...

Verão de 1932! Hahahahahahahahahahaaaaaaaaaaaaaa!!!!!!!

Luís.G disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luís.G disse...

Simplesmente genial.