Enfim compreendi a teoria de Einstein. Demorei 96 anos para saber que o tempo pode passar mais devagar. Na verdade, passei a entender mais coisas do que gostaria. Uma delas é que as pessoas devem acreditar que velhice é contagiosa. Bom, na verdade, é e bastante. Até hoje nunca vi alguém que não envelhecesse.
Escrevo essas palavras, pois fiz uma descoberta incômoda e queria compartilhar. A última vez que recebi um carinho gratuito ou um cafuné demorado foi há dez anos, quando minha mulher de toda a vida morreu. Desde então transformei-me para os outros em um tipo de estátua. Na verdade, o era há muito tempo, mas só percebi quando passei a dormir sozinho.
Entendam que não é uma reclamação e sim uma constatação. Eu mesmo nunca devo ter feito carinho em meus avós ou pais depois que virei adulto. O máximo que lembro são abraços rápidos e talvez, com um pouco de sorte, um beijo nas bochechas ou nas mãos.
E assim como meus pais e avós perderam o tato com o mundo, eu também acabei transformado em ferro ou latão junto com milhares de senhores e senhoras que tomam os banquinhos das praças nos finais de tarde.
Interessante é que o carinho claramente existe. Os olhares passam amor e admiração, mas algo – que não entendo – impede o contato físico. Sinto muita falta do contato físico. Poderia apostar que meus cabelos brancos nunca foram afagados. Triste, para mim, evidentemente.
A conclusão a que chego só pode ser uma. Como eu na juventude tinha medo de envelhecer e me afastava fisicamente dos mais velhos, os mais novos de hoje sentem o mesmo e evitam a mim. Queria dizer que não adianta. Nada adianta. A velhice chega, mas ela pode vir com ou sem cafuné.
2 comentários:
A dona da cachorra da minha última postagem costuma dizer que pele de velhinhos dão siricutico. A pele dela é macia demais pruma pele de velhinho. E ela diz que não pretende ter filhos nem se casar. Acho que foi pensando nisso que um deus fez os ventos. Ele acaricia sem preconceitos e é talvez o único toque passível de ser sentido no corpo inteirinho ao mesmo tempo. Mesmo naqueles que não se casaram, não tiveram filhos e, mesmo assim, hão de envelhecer.
Ah! E eu sei porque você pode ser mais perverso com os seus personagens! É que os meus têm sangue e sangram. Os seus têm letras e se auto-descrevem pra você, antes de serem pra outras pessoas...
É uma boa teoria???
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