domingo, 25 de abril de 2010

Amor atrasado

Era a segunda ou terceira vez que te via. Não tinha conseguido me aproximar ainda. O máximo que tinha conseguido eram respostas monossilábicas que nada adiantavam e que nada diminuiam minha agonia. Você também não ajudava nos meus planos. Sempre concentrada nos seus afazeres, pouco me dava atenção. Quando me olhava, usava um certo olhar de desdém que evidentemente me faziam menor diante de tudo. Tentei cartas, tentei e-mail, você nunca me respondia. Falei com suas amigas. Cheguei a falar com seus pais, ou melhor, só o seu pai que, apesar de muito cordial, me pareceu bastante assustador. Nada adiantava, nada melhorava minha condição diante de seus olhos. Neste meio tempo arrumei um emprego melhor e pude me vestir melhor, fazer exercícios físicos, enfim cuidar-me melhor. Passaram-se três meses. Estava dez quilos mais forte, entenda bem: forte, não gordo. Só tinha roupas de qualidade que me davam um ar sofisticado. Usava lentes no lugar daqueles óculos pesados. Passava gel no cabelo e tinha pagado a segunda parcela do meu carrinho zero. Nem assim você me dava atenção. Até que um dia apareci morto dentro do banheiro da faculdade. Uma faca de cozinha daquelas bem vagabundas estava enterrada no terceiro buraco aberto no meu peito. Pelo jeito não gritei, talvez surpreso, provavelmente feliz. As facadas vinham acompanhadas de sussurros: te amo, te amo, te amo.

2 comentários:

DuDu disse...

uuuuhuhuhuuunuhhuhummuuhuh.... Suspense

Camila Caringe disse...

(((chocada)))