segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Guerra

É guerra. Naquele dia precisei sair na Central. Como qualquer cidadão, postei-me diante da porta, esperando o momento de desembarcar. O trem saiu da escuridão do túnel e foi iluminado pela estação e logo sombreado pela multidão. Cerca de 40 pessoas aguardavam para entrar no trem, do outro lado da porta na qual eu estava. Como carros engatados, elas se moviam em ondas curtas. Os pés fincados no chão e o corpo mareando pra frente e pra trás, hipnotizados. Fiz sinal, garoto, de que gostaria de sair. Ninguém tomou conhecimento. As portas abriram, forcei a saída, mas fui carregado para o meio do vagão. Os que entravam, gritavam, se divertiam com a própria tragédia. E eu queria sair. Avancei dois passos, derrubei uma senhora. Quando estendi minha mão para ajudá-la, retrocedi mais quatro passos. Decidi entrar no jogo. Empurrei, soquei, armei meus cotovelos. Me olharam de cara feia, eu olhei de cara feia. E quando o apito anunciava o fechamento das portas, consegui. Fui expelido do trem. Pensei, são sardinhas entrando na lata.

No final do dia, quando voltei à estação, mudei minha conclusão. Naquele momento, era eu a empurrar e entrar no vagão. Não são sardinhas. Somos sardinhas.

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