terça-feira, 20 de julho de 2010

A bicicleta

Foi rápido, muito rápido. Estava fumando um cigarro, pensativo. Ela passou pedalando uma bicicleta verde-abacate. Linda, morena, cabelos lisos, pele fresca, molhada do suor do mar. A visão impediu que a tragada se completasse e tonteei.

Ela parou, me olhou com aqueles olhos grandes de esquilo e perguntou meu nome. Respondi. Jantamos. Almoçamos. Nos beijamos. Fizemos sexo. Conheci os pais dela. Ela, os meus. Rimos. Bebemos. Brindamos. Viajamos. Nos casamos. Brigamos. Fizemos amor. Tivemos o primeiro filho. Brigamos. Às pazes. Viajamos. Tivemos o segundo filho. Compramos nossa casa. Quase nos divorciamos. Fizemos o justo. Nos apaixonamos. Em seguida esquecemos. Conversamos. Mudamos. Viajamos. Brigamos. Não fazíamos mais nada. Envelhecemos. Vimos fotos. Viramos fotos. Morremos. Não lembrávamos o nome um do outro.

Quando a tragada enfim saiu por minhas narinas, a bicicleta verde-abacate já estava longe. Ela era apenas uma sombra. Pra comemorar o que não foi, acendi o segundo cigarro.

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