quinta-feira, 1 de julho de 2010

Contribuição dos 92 anos

Sabe a coluna Prestes? Então, eu estava lá. Tinha oito anos é verdade, mas estava lá. Sabe a Revolução de 1930? E o Estado Novo? É, fui contra, briguei e fui preso, torturado pelas minhas idéias. Aliás, falando nisso, nunca entendi o porquê de chamarmos revolução aquela de 30 e golpe o de 64. Ou tudo é golpe ou tudo é revolução. Mas isso não importa.

Vontade de brigar nunca me faltou e eu era apaixonado. A discussão política era um vício. Fazia com prazer. Nunca tive tempo de namorar, de me envolver. O que eu queria era mudar o mundo. O resto era assunto da pequena burguesia.

O tempo passou, mas eu não. Outra conclusão fantástica. Pessoas não mudam, no máximo afinam o discurso. Nem isso eu fiz. E fui exilado em 64, voltei com a anistia, fui contra Tranquedo e o colégio eleitoral, mas no final fiz campanha para ele. Fui pra rua pelo Lula e vi Collor ganhar. Quando surgiu a oportunidade, ajudei a derrubar o irritado presidente. Tinha 74 anos e não fugi das cores no rosto.

Depois vi Itamar, vi FHC. E, finalmente, vi Prestes ganhar a eleição. E pra quê? Pra simplesmente descobrir que durante toda a minha vida acreditei no que eu queria acreditar. Me escondi da verdade, fugi da responsabilidade de tentar resolver a minha vida. E, a verdade, não há melhor solução para fugir de si mesmo do que propor a mudança dos outros.

O mundo não mudou, só afinaram os discursos. Eu não mudei e só ficaram as paredes. Queria ter morrido antes de 2002, mas não deu. Agora, Inês é morta e eu só posso esperar o momento de encontrar-me com ela.

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