quinta-feira, 8 de julho de 2010

João Paciência

João tinha paciência. Tanta paciência que era conhecido como sábio. Não por saber muitas coisas, mas por nunca, jamais, perder a bendita paciência. E assim João fez sua fama. Chegou a tal ponto que era procurado por faladores de todo o país. Muitos iam para falar, simplesmente. Soltavam seqüências de palavras como numa terapia a base de cerveja ( João tinha o hábito de servir a gelada para seus convidados intrusos). Outros iam apenas para testar aquele santo. Xingavam, falavam os maiores absurdos, tentando a todo custo fazê-lo perder a calma. Mas nunca aconteceu.

A lenda de João Paciência, como era conhecido o cidadão, era e ainda é tão forte que um dia mais de 200 carros estacionaram nos arredores da casa dele. Não eram faladores desesperados em busca de um ouvido paciente, mas um potente buzinaço. Dizem que o evento ensurdecedor durou 30 minutos e, ao final, João Paciência foi à varanda e acenou placidamente.

Toda esta paciência durou 30 anos. Quando fez 31, João Paciência tentou cancelar uma conta de celular. Na quinta transferência entre atendentes, João explodiu. É possível que a casa dele ainda exista e que o telefone ainda esteja fora do gancho. É certo que sob a porta, pilhas de contas do tal celular estejam amontoadas. O que importa, entretanto, é que a paciência nunca mais seria a mesma. A paciência verdadeira, agora, era apenas parte de uma lenda.

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