sábado, 29 de março de 2008

Eu, traidor de mim

A minha língua me trái, muitas vezes.
Em outra língua, a minha língua me trái, mais ainda.
Até quando eu escrevo, meu dedo é língua, e me trái.
Quando eu penso, minhas sinapses são línguas qua-se-se-to-can-do.
Minhas sinapses me traem. Bilhões.
O tato, o gosto, os sons, as cores: línguas.

Aí eu me pego olhando e olhando de novo;
tocando e tocando de novo;
pensando e pensando de novo;
gritando e gritando mais alto.
Que é pra ter certeza.

Mas a gente vai se tocando.
Antes de olhar de novo, eu grito.
Antes de gritar de novo, eu penso.
Antes de pensar de novo, eu ouço.
Antes de ouvir de novo, eu olho.


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