quarta-feira, 12 de março de 2008

Blêfe

A noite que cai às seis me preocupa tanto quanto a força centrípeta que me pôs no chão. Não seriam os dias, que não os santos, ainda tão santos quanto os outros então? Me toca varrer a calçada com os pés vazios de emoção, chutar o canto da rua com a ira inexplicada, pois assim são as iras, e jurar que tudo é conspiração. Fazer das tripas qualquer coisa que bate no peito, mostrar a cara pro que nunca houve e pregar que agora me sigam, pois eu sou o que veio pra dormir, comer, lavar a louça e, eventualmente, salvar o mundo. Tanto me vale o "por que sim?" quanto o "por que não?".

Abraçando o mundo com as pernas, usando as palmas das minhas contra-mãos, fazendo as contas pras compras de outubro de 2100, parei pra ouvir o tempo e deixei cair o plano no rio de março. Aí, é um abraço, perdôa a ironia.

Maria tinha um sonho comum - como qualquer um que sonha, como um sonho qualquer - e fez valer o novo ditado de "quem tem sonho, tem tudo", e foi com tudo. Maria, contudo, não foi com tanto que fosse o bastante e acabou voltando mais leve do que foi. Maria foi e voltou e trouxe uma flor no cabelo, que ganhou no pôquer, sem cartas marcadas. Usou de blêfe, de truque, de sangue frio, de óculos escuros, de uma coleção de sorrisos, de sorte - muita sorte. O beijo de Maria tinha outro tom e o sonho de Maria tinha outro peso. O peso das coisas certas, pensadas, testadas, perdidas e achadas, em outro lugar.

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