quarta-feira, 19 de março de 2008

Conto para gringos

"No centro do Rio de Janeiro, bem ali no Largo da Carioca, uma arena improvisada é montada todos os domingos. As arquibancadas são feitas de caixotes de madeira e a arena em si é de terra batida com direito a uma variedade incrível de vermes e os mais diferentes formatos de cocô de cachorro.

Neste espaço, acontece o maior evento semanal da cidade, o "Olé Ninõ". Logo após os jogos de futebol do Maracanã, os cariocas, que vivem em tendas sobre as árvores e que ainda não chegaram à idade do ferro, lotam os espaços para assistir aquele incrível espetáculo dos trópicos.

Funciona assim: dez crianças entre 10 e 15 anos são empurradas a chicotadas para dentro da arena. Um homem armado e com três kilos de doce espera o ataque mortal da criançada. O objetivo é não se deixar tocar por elas. Para ajudar, o tal homem pode usar os pés para afastá-las com chutes e rasteiras, mas em nenhuma hipótese pode usar as mãos, como no futebol e no futevolei.

O baile deve durar cinco minutos contados pelo relógio histórico da praça. Terminado este tempo, o cabra deve matar as crianças, mas só pode usar uma bala por cabeça, de preferência, é claro, na cabeça. Quando um tiro é o suficiente para a tarefa, o atirador ganha as orelhas e um dedo do pé do mortinho. Se conseguir matar todas as crianças usando uma bala para cada uma delas, ganha todas as orelhas, além das mãozinhas e ainda sai carregado nos braços do povo.

Quando acaba o show, os cariocas voltam às suas tendas para comer um papagaio ou uma capivara na lenha. Depois, dançam para afastar as chuvas de janeiro e vão direto para as esteiras ou folhas de bananeira, pois amanhã a galera tem que ir pra floresta caçar. "

Quando acabei de contar esta história, alguém disse: "Deve ser uma tradição oriunda das touradas" e perguntou: "O governo apóia esses eventos?" Deu vontade de chorar.


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