terça-feira, 11 de dezembro de 2007

O sonho do corredor

Um corredor sem portas nem janelas. Um feixe de luz ilumina o exato lugar onde me encontro. Com as mãos, impeço que uma parede de corpos, lembranças e vozes avance pelo corredor. Jogo todo o peso do corpo contra a massa e meus pés escorregam. Atrás de mim, uma criança magra, suja, frágil e esfarrapada me olha com lágrimas nos olhos. Assustada e paralizada de medo, ela apenas me olha. Grito "corre", mas ela não se move. Os corpos e vozes forçam passagem, e meus calcanhares encostam no tornozelo da criança. Me concentro, encontro os olhos perdidos que me atacam e me empurram. Perco a criança do meu raio de visão. Quando meu joelho vacila, escuto "só posso correr se você vier comigo". Choro, perco força e um braço dos tantos que me empurram agarra minha mão. Grito desesperado "Fuja! Corra! Saia daqui!", mas o pequeno agarra minha calça.

Até hoje não sei se corri ou se fui tragado pela massa de corpos anônimos que um dia conheci. As vezes parece que nossa missão é impedir o passado de virar presente e nunca correr para o futuro.

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